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domingo, 5 de novembro de 2017

Vencedor da votação para o melhor conto de "Em tons de Valsa aguarela-fogo"



O conto Automá-á-á-á-tico-o-o-o!.. da autoria de Maria Lucília Teixeira Mendes é o vencedor da votação dos (muitos) leitores que participaram neste passatempo. À autora, os nossos parabéns!
O nosso grande agradecimento a todos os que votaram e a lembrança que é já no próximo sábado que vamos saber quem tem o número a sortear como número da sorte no totoloto.
Os nossos parabéns também para os autores que ficaram em segundo e terceiro lugar (desempate quase ao photo finish...), respectivamente Ilda Almeida Pinto com "Léria" e Pedro Forte com "Gil e a Águia".
Para os que ainda não tiveram oportunidade de ler este conto fica aqui um pequeno excerto.

Automá-á-á-á-tico-o-o-o!..


Não há infâncias iguais. A minha foi diferente de todas. Naturalmente.
Na impressora virgem dos poucos anos vividos, aberta ao inesperado, à surpresa, ao sempre novo, sem preocupações nem regras limitativas, há factos nunca apagados, normais, simples, sem importância, mas que, sem que ninguém se apercebesse, iam moldando cada vida a crescer.
Retratam um tempo, um lugar, uma cultura, uma gente e um modo de estar na vida cujas preocupações quase se resumiam às sementeiras e colheitas, ao bom ou mau tempo, aos animais a comprar ou a vender, à comida a pôr na mesa… E pouco mais. Claro que, os deveres do bom cristão comandavam e eram regra de vida para velhos e novos. Mais para os primeiros do que para os segundos! O sino da igreja marcava também os ritmos deste povo crente.
A liberdade de brincar, de correr, saltar e gritar, era infinda. Havia apenas o cuidado de que nenhuma criança caísse nalgum daqueles poços redondos, estreitos e fundos em cuja água vi, um dia, a boiar, o corpo inchado da cadela amarelada do senhor Custódio. Coitadinha!
Carros, poucos havia. O comboio não metia medo: chegava devagar e devagar partia, depois de curta paragem no apeadeiro aonde iam passear as raparigas com fatos domingueiros. Mas partia zangado por não o deixarem estar mais tempo a observar a gente: arrancava a espumar ruidosamente, para o chão e para os lados, água fumegante e a ferver que fazia saltar quem estivesse por perto.
Era também para o apeadeiro, de que apenas resta a tabuleta, que na altura ostentava o nome da sede de freguesia, - Figueiredo das Donas - que corriam as crianças, depois de aberta, como de gaiola, a porta da escola. Todos queriam chegar primeiro. Infalivelmente, em bicos de pés e olhos esbugalhados para a janela da carruagem do correio, gritavam em coro:
- Químicos, tabuletas, lapiseiras e canetas!

Logo se assomava um rosto redondo e corado, com um enorme sorriso bonacheirão. E lá vinham, janela fora, umas tabuletas de encomendas antigas, ainda com endereços escritos a que ninguém ligava, uns químicos usados e mais nem sei já o quê. (...)



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